domingo, 3 de maio de 2009

ALUCINAÇÕES DO PASSADO (EUA): 1990

Este não é um filme de guerra, apesar da abertura. O tema do trabalho do diretor Adrian Lyne é o tênue limite entre sonho e realidade. O pesadelo recorrente de Jacob Singer (Tim Robbins) com o ferimento de guerra que lhe atingiu, alguns anos antes, é apenas o primeiro de uma série de eventos sinistros e inexplicáveis que dão a impressão de que ele pode estar ficando louco. Ainda atordoado após o sonho ruim, ele percorre ao vagões desertos. É madrugada. Jacob desce na parada seguinte e descobre que a única saída aberta encontra-se do lado oposto da linha férrea. Ele tenta atravessá-la e quase é atropelado por um trem. Aterrorizado, percebe que silhuetas com rostos desfigurados, como demônios, o observam de dentro dos vagões. Como explicar a visão macabra? Ele realmente viu aquelas sombras, ou apenas as imaginou? Esse é o prelúdio de uma história assutadora e imprevisível.




A atmosfera sombria permeia todo o filme. Como a cena nos subterrâneos do metrô...




E as visões aterradoras de Jacob têm início. Rostos desfigurados o encaram de dentro dos vagões...
Jacob é um personagem fascinante. Traumatizado com a guerra, ele retornou aos EUA outro homem. Dono de um doutorado em Filosofia e pai de duas lindas crianças de um casamento feliz, ele jogou tudo para o alto. Abandonou a família para casar com uma carteira, e o apartamento chique em Manhattan, onde vivia, para morar em um moquifo no Brooklyn, bairro de classe média baixa habitado por criaturas da noite. Quando o vemos pela primeira vez, no metrô, Jacob está lendo o romance “O Estrangeiro”, de Albert Camus. A leitura é uma informação importante para compreendermos o homem que ele é, suas motivações e seus traumas. Jacob é um personagem sólido. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de sua sanidade.


Interpretado por um Tim Robbins quieto, calado e com um sorriso inocente, Jacob é um mistério que vai sendo revelado aos poucos. O filme, porém, é muito mais do que ele, e para compreender o que está se passando com a mente do sujeito é preciso saber “ler” as pistas enviadas pela exímia direção de Adrian Lyne. Os nomes bíblicos dos personagens (Jezebel, Gabriel, Sara, Paulo) informam ao espectador que há mais no quadro pintado pelo filme do que conseguimos ver. Em determinado momento, Jacob começa a suspeitar que possa ter sido vítima de alguma experiência secreta com drogas durante a guerra (droga cujo codinome é "a escada")...


O diretor inglês Adrian Lyne se inspirou nas pinturas de Francis Bacon e no livro "A Divina Comédia" para compor o filme. Com 22 anos de carreira, recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor, por "Atração Fatal" (1987).

SOBRE O DVD: infelizmente o longa-metragem ainda não foi lançado no Brasil. Pelo que sei, foi lançado apenas na Região 1, pela Fox, em uma edição simples com os seguintes extras: há um comentário em áudio do diretor, um pequeno documentário de bastidores ("building Jacob's Ladder") e um segmento de cenas eliminadas da edição final. Para quem é fã e gostaria de ter esta preciosidade em DVD entre em contato. Possuo uma versão com legendas em portugues (rub.records@yahoo.com.br)


7 comentários:

  1. pois é...esse filme passou na globo a milhões de anos atrás...a NET chegou a reprises Mais Veloses e Furiosos 29 vezes em abril, mas um filme como esse vc nunca vê de novo...pode ir passando esse DVD...

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    Respostas






























    1. É por isso que eu vejo filmes online ou baixo o filme quando não encontro online, não é pirataria! É conhecimento! A industria tem que sucumbir as pessoas. As pessoas são mais importantes que a industria que os manipulam.

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  2. Este filme inspirou o jogo Silent Hill.

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  3. Muito interessante e bem feita a crítica. A achei pois estava pensando nesse gênero de filme que fica entre a realidade e a loucura, o limite tênue entre ambas as linha como principal motivação para manter o espectador cativo da trama e me peguei tentando lembrar o título da película aqui abodada. Só lembrava do ator, mesmo.

    Realmente, nota-se que a estética serviu de inspiração para excelentes filmes. Contudo, o tipo do filme, infelizmente, encontra-se saturando. Digo tipo como a temática abordada e a revelação do cacife "você não adivinharia nunca o desfecho". Bom, o filme fez escola e nem que por curiosidade deve ser assistido por quem curte um fime realmente bem feito, que, pelo inexorável curso do tempo, acabou por ter seu conteúdo saturado. O próprio Clube da Luta abordou tema semelhante, mas com uma linha narrativa diversa: não é o chamariz do filme a realidade/imaginação e a levada bem humorada

    Abraço a todos e parabéns novamente pela crítica!

    João

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  4. O Rubens Ângelo talvez não se lembre de mim, mas eu consegui o filme com ele no ano passado, mais especificamente em dezembro. Minha história com o filme com a antiga, vem desde 1998, quando vi o filme pela primeira vez na Fox, em novembro daquele ano. Imediatamente senti um choque com o filme, um misto de repulsa e desejo, algo que me fazia querer ver todas as vezes o bendito do filme quando passava na TV a cabo (e olha que o filme passava naquela época todo santo mês, seja na TNT, Fox ou na extinta MGM Gold, hoje apenas MGM). Paralelo a isso, meu TOC começou a piorar consideravelmente. Como o Rubens comentou, é uma questão metafísica, e é até hoje, no plano da metafísica, que analiso o filme. Parece que esse filme se inspirou numa história real como aquela que afirma que os soldados do Vietnã foram envenenados com aquela substância ativa do RedBull, em doses cavalares. Pois bem, eu senti um estranho deja-vu com essas cenas, e analisando fatos de toda a minha vida, talvez eu não esteja muito errado a respeito disso. A verdade é que tudo conspirou para que eu visse o filme naquele longíquo 1998, e me apaixonasse por ele até hoje, uma paixão visceral.
    Tenho muito que agradecer ao Rubens pela mídia que ele disponibilizou, pois ela contém os extras que a versão da Magnus Opus não contém, lamentavelmente. Quanto ao fato do filme não ser mais exibido na TV a cabo, o que é uma pena, lembro-me de na faculdade pesquisar desde 2001 as revistas da Net, nas bancas de jornal, para ver se o bendito do filme passava - e não. Houve um hiato de anos desde 2000, que foi quando o filme deixou de ser passado na TV a cabo (não conto a Globo porque ela não poderia deixar de passar o filme num horário ingrato, madrugada de domingo para segunda), até quando consegui alugar o VHS, no nono andar da Uerj - isso mesmo, andar de Filosofia. Sabem o que eu disse para o sujeito que me alugou o filme? "Você é um anjo". Pois é.
    Antes do filme ter sido lançado em DVD, consegui um DVD ripado do VHS - do qual já me desfiz, após ter feito inúmeras cópias e dado a várias pessoas. Hoje tenho o original e o do Rubens.
    É de fato uma pena que esse filme tenha ficado lendário aqui no Brasil. Tanta porcaria que passa ininterrputamente na Tv aberta e fechada e uma joia dessas desconhecida do mundo. Mas, sabe-se lá como (intervenção metafísica?), o filme veio parar na minha vida - e dela não saiu nem sairá. Uma boa tarde a todos. Até mais.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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